segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Narciso



                                    Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
                                    Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
                                    Ah, que terrível face e que arcabouço
                                    Este meu corpo lânguido escondia!


                                    Ó boca tumular, cerrada e fria,
                                    Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
                                    Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
                                    Numa fronte a suar melancolia:


                                    Assim me desejei nestas imagens.
                                    Meus poemas requintados e selvagens,
                                    O meu Desejo os sulca de vermelho:


                                    Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
                                    Noite de amor em que me goze e tenha,
                                    ...Lá no fundo do poço em que me espelho!


                                   José Régio



Imagem d' O Mito de Narciso, Caravaggio

Navegação à Deriva


Quem navega à deriva
Sabe que há vida além dos mares no mapa
Além das bússolas, astrolábios, diários de bordo
Além das lendas de monstros marinhos, dos mitos


Quem navega à deriva
Acredita que há mares miragens, portos
Inesperados, ilhas flutuantes, botes e salva-vidas
àgua potável, aves voando sobre a terra, vertigem


Quem navega à deriva
Aprende que há mares dentro do mar à vista
Profundidade secreta, origem do mundo, poesia
Escrita cifrada à espera de quem lhe dê sentido


Quem navega à deriva
Se perde na costa, do farol na torre, dos olhares atentos,
Dos radares, das cartas de navegação
Imigra para mares de imprevista dicção


Marcus Vinicius

MUSE...únicos



Ontem fui assistir a um concerto que será, sem dúvida, um dos mais memoráveis que terei.
Depois do grupo de abertura, provavelmente o de maior qualidade que vi até hoje, Muse apareceram e deslumbraram.
Com uma apresentação cénica absolutamente incrível e três plataformas elevatórias, do preto surgiram dois paralelepípedos até ao topo do Pavilhão Atlântico com a projecção de seres brancos a subirem escadas, repetidamente. Cerca de um minuto depois, caem os panos e surgem os três elementos da banda que a meia altura do Pavilhão arrebataram por completo a multidão.  
Impossível, apesar de ser uma das minhas bandas de eleição, a par com Live e Dave Matthews, não se ser completamente absorvido pela garra, energia, calor e qualidade da música de Muse. Uma noite em que o meu corpo se deixou apoderar de todos estes aspectos e reagir involuntariamente ao ritmo dos sons da guitarra, da bateria e da voz absurdamente magnífica de Matthew Bellamy.
Inesquecível...








Fotografias de Carolina Quirino

Exposição "Antimonumentos"


Ontem à noite fui à inauguração de uma exposição de homenagem a Virgílio Domingues—"Antimonumentos", um dos maiores nomes da escultura em Portugal, na Galeria Municipal Artur Bual, Amadora.
As peças têm, indubitavelmente, formas únicas que nos fazem rodeá-las e apreciar o pormenor e subtileza com que foram criadas. Com temas por vezes bem explícitos e outros que nos fazem olhar mais atentamente para os decifrar, existe um imaginário muito peculiar, inteligente, inovador e verdadeiramente artístico que transpõe para cada uma das esculturas. Com um percurso e currículo muito ricos, denuncia um evidente traço de originalidade.
Depois de vista a exposição, seguiram-se a intervenção da sua obra por Rui-Mário Gonçalves e Manuel Augusto Araújo, um café-concerto com "Uma Noite de Jazz Clássico" com o Quarteto Vitaminas e o declamar de poemas Pós-Revolução e poemas acompanhados ao som da guitarra.
Relevo, ainda, o enorme prazer que tive em conhecer o escultor Eduardo Nascimento e o músico Carlos Sanches que traduzem, exactamente, o que tenho como aquelas pessoas que se conhecem e desde logo aprendemos bastante, pelas suas qualidades enquanto seres humanos e artistas. E, claro, rever o meu amigo pintor João Silva.
Finda uma noite tão compensadora, recomendo sinceramente uma visita ao espaço.




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Inauguração Festival Musidanças


Ontem iniciou o Festival Musidanças—Festival de Artes do Mundo Lusófono, do qual já falei no meu blog, na sala de espectáculos do Tambor Que Fala , sede dos Toca a Rufar.

Presente estava o painel alusivo ao tema Multiculturalidade, realizado a três por mim, pelo pintor João Silva e pelo músico Firmino Pascoal, acompanhado de uma noite de música com os Sons da Gente e uma parede composta por centenas de tambores provenientes de várias partes do mundo.
Pela 9ª vez, o Festival criado e organizado por Firmino Pascoal, dá a conhecer as artes lusófonas dispersas por todo o mundo.
Para saberem mais, cliquem aqui .




domingo, 22 de novembro de 2009

Infância, crianças e Internet: desafios na era digital


A 23 e 24 Novembro, decorrerá uma Conferência Internacional na Fundação Calouste Gulbenkian, às 10h, no Auditório 2.
Tal como o próprio título deixa antever, debruça-se sobre a Cibercultura e as questões do quão disponíveis estão todas as novas tecnologias para as crianças, na escola e em casa, discutindo os prós e contras que daí advêm.
A sessão de abertura será com a Ministra da Educação, e conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros.
A conferência também poderá ser acompanhada directamente online, numa concepção contemporânea de museu virtual.
Para informações mais detalhadas, "googlem" o nome da Fundação e acedam aos eventos.

Fotografia da FCG

sábado, 21 de novembro de 2009

Uma a uma…


De aspecto milimétrico, caem paralelas ou enviesadas, engrossam, retornam a seres mais pequenos, desvanecem-se. Páram um pouco para pensar, voltam a unir-se numa condensação volumosa e gaseificada e tornam a cair. São bonitas e simpáticas.
Hoje, como em muitos dias, foram amigas que não se separaram de mim nem por um minuto. Numa conversa mais ou menos amena entre si, colocaram-se do lado de fora enquanto eu, inspirada pelo seu agradável burburinho, pintava e divagava no meu mundo interior.
Inoportunas quando temos que partilhar o mesmo espaço sem o querer, são a melhor companhia quando se quer trabalhar confortavelmente em casa, pensar, reflectir, percorrer mundos reais e imaginários; oportunas, também, quando nos colocamos debaixo delas e levamos com a sua frieza na cara, de braços abertos a rodopiar com a sensação de leveza física e de espírito.
Sempre me lembro de gostar delas. Desde criança, em que os Invernos ainda eram de quase seis meses e via, em bicos de pés, pela janela da sala, um céu cinzento muito escuro e temeroso. Por vezes acompanhadas de raios e trovoadas, estavam lá, bem perto de mim e dos meus hábitos, e deixavam o seu rasto quando depois de pararem proporcionavam o cheiro maravilhoso a terra molhada.
Agora, de chávena com chá quente entre as mãos, pensei no que iria escrever e lembrei-me que, embora actualmente ousem aparecer sem anúncio e vislumbre prévios, sempre foram boas colegas e das melhores amigas que alguma vez tive.
Obrigada, gotas da chuva.


Fotografia de Carolina Quirino


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Feira de Arte Contemporânea



                                                                    














Fui ontem visitar a Feira de Arte de Contemporânea.
Inicio por dizer que fiquei deslumbrada pela técnica e conceito de alguns pintores portugueses. A estes, os meus Parabéns enquanto artistas e representantes do que se faz em Arte em Portugal.
Todavia, algumas críticas negativas, mais do que gostaria:
1º—com excelentes artistas que actualmente estão a emergir no panorama português, não lhes deveria ser dada uma maior ênfase?;
2º—apesar de ser uma feira, continuo sem perceber a organização labiríntica que, mesmo percorrendo os corredores um a um, enquanto entro nos stands à esquerda e à direita acabo sempre por ter que voltar atrás porque entretanto percebo, ou por outra!, não percebo, como ficaram muitos trabalhos por ver;
3º—nunca é demais rever os nomes incontornáveis dos pintores portugueses do século XX mas será suposto estarem presentes em tanta quantidade numa feira que é anual e deveria mostrar o que se faz de novo na Arte?! (até porque que há galerias com vários dos seus trabalhos e retrospectivas anuais dos autores...)
4º—não deixei de ouvir várias vezes "Até eu fazia isto!" ou "Algum dia eu pagaria este valor por estes pedaços de papel?" Entre muita ignorância e completo alheamento da concepção de Arte, estes comentários no âmbito d'"O que é Arte hoje?" talvez até nos façam debruçar sobre algumas questões...
5º—se antes via na questão do que é ou não Arte na actualidade o aspecto positivo de incitar os artistas a conceberem novas técnicas e conteúdos, produzindo trabalhos muito diversificados mas qualitativamente bons, ontem esse aspecto desvaneceu-se...
6º—todos os anos existem stands vazios de galerias estrangeiras. Obviamente que não se esqueceram da data! mas a organização deveria solucionar os espaços vazios com opções dentro do contexto.
Terminadas as críticas negativas, não posso deixar de fazer jus a alguns dos excelentes trabalhos exibidos, portugueses e estrangeiros. Alguns, realmente magníficos e que da memória não me saem. 
Não ouso enunciar nomes, por razões óbvias mas aconselho vivamente uma ida à exposição. Também porque não deixo de ter orgulho que Portugal tenha a sua própria Feira de Arte Contemporânea.




terça-feira, 17 de novembro de 2009

Inocular e Pintar


Em visita de estudo, fomos hoje ao ITQB conhecer o trabalho artístico de Patrícia de Noronha.
Investigadora científica e doutorada em Biologia Molecular, trabalha agora no mesmo local, num projecto de fusão entre Arte e Ciência ("Diferentes olhares sobre os objectos científicos").
Pelo prazer da experimentação e descoberta, e com os seus conhecimentos de Biologia, trabalha numa câmara de fluxo laminar em condições de assépsia, contaminando micro-organismos. 
Utilizando suportes não habitualmente direccionados para a prática artística, como placas de petri ou de acrílico, ansas, micropipetas, resina de poliéster e tintas previamente seleccionadas para determinados efeitos, produz "bio-pinturas". Numa experimentação massiva, testa as capacidades de cooperação ou contaminação dos micro-organismos, o tempo de secagem, a sobreposição ou não de camadas, segundo ideias antecipadamente delineadas.
Todo o processo e resultado final é fotografado digitalmente.
Na minha opinião, os resultados de géis de proteínas imobilizados em resina nas placas de petri são imageticamente bastante interessantes e alguns até mesmo dotados de uma extrema beleza. Porém, quando utiliza como suporte papel de aguarela, os resultados afiguram-se-me pouco interessantes.
Independentemente dos objectos finais, segundo a autora, o processo experimental é o mais importante, numa adequação entre prática científica e prática artística.


Fotografia de Alexandra Ceregeiro

O (im)perfeito de ontem, HOJE e AMANHÃ...



A vida perfeita não existe. Porque o perfeito é subjectivo e porque se o houvesse não gostaríamos por nada haver a desafiar.

Reparo, cada vez mais, que a vida é feita de pequenos momentos e devemos usufruí-la como se de um ovo de Fabergé se tratasse, com muito cuidado e muita dedicação.
A minha máxima de vida é uma só [omitida neste blog enquanto o mesmo se direccione para esta disciplina Cem/Sem Palavras (apropriando-me da citação de uma colega)] mas, diariamente, consciencializo-me que são as pequenas coisas e situações peculiares que me preenchem e fazem feliz.
Estar com amigos que há muito não via, ver os que gosto estarem bem, almoços e jantares inesperados e que inesperadamente se prolongam mais que o suposto mas que em tudo compensam, hábitos que se repetem entre amigos e família, ver um bébé lindo na rua, sorrir a quem não conheco, oferecer algo sem ser uma ocasião especial, rir às gargalhadas e chorar desalmadamente quando me apetece,...
Isto sim, é parte do meu Eu e parte do que me faz sentir uma pessoa feliz...alheia, tanto quanto possível, às tentativas em redor de provocação do oposto.

Fotografia de Carolina Quirino

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Arte contemporânea. Será?

A produção artística de qualquer autor, independentemente da área em que se insira é, indubitavelmente, um espelho do seu ser interior. 
A meu ver, na área específica da Pintura, a questão do que é ou não Arte, questão que se prolongará por muito tempo, deverá ter como uma das premissas de legitimação a qualidade conceptual e ténica de transposição desse mundo tão pessoal para o exterior. 
Apesar do próprio artista poder alegar determinadas bases conceptuais já admitidas ou possua uma qualidade estética aprazível no intuito de ser aceite, cabe-nos a nós, enquanto observadores (apartando a minha profissão de pintora neste momento), saber destrinçar o que é uma linguagem pura e uníssona entre artista e a sua obra ou uma mera reprodução de conceitos, ideologias e elementos já existentes,  totalmente desprovidos de um carácter original.
Por consequência de (in)correctos juízos de valor face às produções contemporâneas, premissas de análise crítica já instituídas a par com outras bastante dúbias, deparamo-nos cada vez mais com uma produção massiva de trabalhos, artísticos ou não...




          

       VS
                           


"João Fernandes, director do MACS, (...) considera que, na maior parte dos casos, estas intervenções, que muitas vezes se limitam a "um conjunto de calhaus ao alto", são "de muito duvidosa qualidade", pelo que mais valia que a decoração daqueles espaços tivesse sido deixada aos cuidados dos jardineiros municipais."
                

Fotografia de Nathan de Oliveira

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O dia hoje acordou assim...







Fotografia de Carolina Quirino

sexta-feira 13


Deitar a horas indecentes durante a semana tem destas coisas... Reparei que hoje é sexta-feira 13!
Para os supersticiosos, imitem o que fariam numa normal sexta-feira; aos aventureiros, desafiem as próprias situações porque azares, pragas, bruxas e torturas já são parte de muitos dos restantes dias...
E não se assustem se virem um gatinho preto ou tiverem que passar debaixo de escadas impostas nos passeios em frente aos inúmeros prédios em recuperação por toda a Lisboa...



Fotogs.de http://images.google.pt/images?hl=pt-PT&um=1&q=imagens+sexta-feira+13&sa=N&start=40&ndsp=20

www.gritarsempoder.com


Quantas vezes nos apetece gritar ao mundo o que sentimos?!
As senhoras no metro que enfiam o tacão nos nossos pés, os encontrões que nos dão na rua porque não lhes apetece afastar 1 mm, passarem à frente na fila de supermercado, não nos responderem quando dizemos "Bom Dia", pedirmos se há o tamanho maior à empregada da loja e ela virar-nos costas, ocuparem o lugar de estacionamento quando estamos com os 4 piscas ligados há 15 min., segurarmos a porta para alguém entrar e nem sequer nos agradecer, levarmos com os bicos dos chapéus-de-chuva na cara,... 
Dá vontade de berrar bem alto, não dá? Mas não vale a pena... Há pessoas que não mudam e nós devemos reagir de acordo com a nossa educação. Mas garanto, que nos raríssimos dias em que me apanham de péssimo humor, respondo à letra. E foi por isso, que hoje fui de encontro e ia arrancando o braço a uma senhora que estava num passeio à conversa com a dona de uma loja... :)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um alfaiate...muito contemporâneo


O Alfaiate Lisboeta é o nome do blog de um fotógrafo português. 
Com visão perspicaz, capta imagens únicas de pessoas que, mesmo a olhares atentos como o meu, facilmente nos cruzamos sem dar conta.
Citando o autor, "as boas ideias não se têm apenas mas também se aproveitam", o facto é que de uma ideia já existente criou uma perspectiva muito própria e de muita qualidade!


Fotografia retirada do blog do artista

Pequenos manequins...


São pequenos modelos elaborados com materiais naturais, tão simples quanto sementes de árvores e pedaços de madeira. 
Minuciosamente trabalhados, reflectem uma imaginação muito fértil e o amor dedicado à execução de cada uma das peças, pelo Rui e pela Bena.
Entre duendes, princesas, trovadores, feiticeiros e bruxos, perdemo-nos e viajamos para um território de sonho. E quando estamos em frente a estas obras tão originais apetece-nos ficar horas a olhar para elas... 


Fotografia retirada do blog dos artistas

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bem cedo...




Acordei cedo, tomei o pequeno-almoço e vesti a minha bata pigmentada.
Sem ser premeditado, depois de ano e meio imóvel, retirei a caixa de madeira da prateleira.
Dispus 6 telas pequenas no chão. Retomei uma temática começada há 3 anos e projectei, irreflectidamente, memórias dessa época. Tinha-me esquecido, por completo, do sentimento de liberdade que a técnica a óleo me transmite.
Esta manhã tão rica, pessoal e produtivamente, representa, como em todos os meus trabalhos, algo que intencionalmente não espero que o observador decifre. Gosto do fecundar de interpretações que as imagens proporcionam, que é parte do meu alimento para seguintes produções plásticas.

Fotografia de Carolina Quirino

terça-feira, 10 de novembro de 2009

À deriva rumo a um destino incerto...




Por vezes sinto-me completamente à deriva. Questiono-me acerca da pertinência das minhas próprias dúvidas, do que faço e como faço. Coloco-me em posição de testemunha do meu ser, um voyeur que me persegue e analisa e, porventura, no fim do dia, me responde a tudo o que lhe pergunto, sem juízos de valor.
Transcendo para uma realidade virtual. Levito e relaxo deitada sob um pano de seda suave e confortável, em que adormeço. De repente, deslizo para uma superfície dura, incómoda, desconfortável. Retornei à realidade.
Procuro, incessantemente, a  minha testemunha. Perdi-a. Desnorteada, entro em pânico. Procuro ainda mais. Páro! Olho para o chão. Vejo os meus sapatos, que acomodam uns pés inertes, ladeados por sapatos de todas as cores, irrequietos, rápidos, deslocando-se em direcções opostas. São seres, humanos. Seres, que muitas vezes como eu, se prendem a um imaginário como fuga das circunstâncias que os confundem, perturbam e até mortificam. Mas a que todos regressam até ao Último dia.
Parece fácil fugir, correr sem parar e olhar para trás, com mochila às costas e abandonar tudo. Mas estamos somente a esquecer a beleza do presente que, por muito má que nos pareça na altura, é experiência, é um momento entre muitos que tem que ser enfrentado e nos ensina, muito.
Não me importo, gosto de quem e do que sou, não gosto de perder mas gosto de lutar e crescer. Gosto, o quanto gosto!, de viver… no meu mundo que partilho com todos os mundos que me rodeiam…

Fotografia de Carolina Quirino

Vejam lá se ainda se lembram...


Quem não se lembra da música, do Poupas, do Monstro das Bolachas, do Becas,...na nossa infância?
Esta série é composta de todo um imaginário infantil mas que nos ensinou muito e fará, certamente por muitos anos, relembrar os momentos de alegria e espontaneidade em que nos podíamos dar ao luxo de sentar a ver desenhos-animados, sem mais obrigações que não as de rir e brincar...
40 anos de Parabéns Rua Sésamo!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um exemplo do meu trabalho...

Sucintamente, a minha produção plástica baseia-se em viagens e numa realidade observada cuidadosamente, com espírito aberto e absorção por cada poro do meu corpo tudo o que existe nos sítios que visito.
A charneira do meu actual tipo de criação coincide exactamente com a minha estadia na Grécia, quando fiz Erasmus durante o 2º semestre do 4ªano de Pintura, em 2007.
O facto de estar inserida numa cultura totalmente diferente, a todos os níveis, fez com que me sentisse um ser extraordinariamente livre, com uma sensação de leveza e apreensão do me rodeava tão peculiares que penso só saberem exactamente do que falo os que partilharam a mesma experiência ou experiências semelhantes.
Por enquanto, torna-se difícil teorizar a minha produção plástica. A quantidade de ideias continua a ser infinita tais como os modos de abordar variados temas e momentos físicos e virtuais (havendo, obviamente, os comuns estagnamentos a qualquer artista em que “nada” ocorre…) mas as viagens, a realidade, a fotografia e os “mapas mentais” são a base, explícita ou mais implícita, da estética dos trabalhos que crio, sobre um suporte tão "tradicional" quanto é a tela...
A fotografia em baixo é um exemplo, em acrílico s/tela.


Fotografia de Carolina Quirino



domingo, 8 de novembro de 2009

Festival Musidanças





No início do mês de Setembro, juntamente com o músico e artista plástico João Silva e o poeta, músico, compositor e director do Festival Musidanças, realizei o tríptico Multiculturalidade, o tema para o Festival Musidanças deste ano, que estará presente nos quatro locais onde irá decorrer. Foi uma manhã extremamente enriquecedora, no atelier do João Silva, em que cada um de nós se foi apropriando do espaço pictórico de uma forma harmoniosa, descontraída e com a ideia sempre presente de demonstrar a identidade do Festival no que toca aos temas do intercâmbio, da mistura, partilha e globalização.
O Festival Musidanças foi criado com o propósito de divulgar a arte lusófona em Portugal e promover artistas de diferentes áreas. Uma mostra das diferentes identidades que compõem uma aldeia global, tão variada quanto repleta de saberes e modos muito distintos de materializar as capacidades inatas e aprendidas de cada um dos que participa e assiste.
São já muitos os nomes que se destacam desde a sua 1ª edição em 2001.
Para poderem ver o painel e a programação de 2009 vão a     http://zoomusica.net/musidancas/2009/index2.html.









"Inteligência Artificial"

O universo artístico-científico desenvolvido a uma velocidade alucinante nos recentes anos não é, de todo, uma das vertentes com as quais mais me identifico. Mas desde a visita à exposição Inside, os conceitos interligados de Ciborgue, Ciberespaço e Cibernética atropelam-se na minha mente, o que me levou hoje a alugar o filme “Inteligência Artificial".
Sem qualquer hipótese de fuga, mergulhamos neste mundo digital de Ciberespaço, repleto de seres físicos ou protótipos físicos e/ ou virtuais.
Enquanto que o conceito de Ciborgue já nos seja desde há muito acessível em filmes como “Inteligência Artificial” ou “Eu Robot”, não deixa de me parecer estranha essa apropriação de máquina ao Homem. Parecem-me significativas as consequências do desenvolvimento tecnológico (como, por exemplo, a criação de próteses biónicas e artóteses para casos médicos) mas tenho alguma relutância quando estas emergem no campo estético.
O dia em que a tecnologia supere as capacidades humanas teremos duas questões que se irão impor: um mundo de clonagem em que humanos e máquinas, que se comportam mimeticamente a nós como seres informáticos semelhantes que são, convivem num mesmo espaço; ou um mundo em que a nossa existência enquanto seres de uma espécie única é ultrapassada por uma inteligente criação tecnológica.
As questões éticas e do funcionamento da mente humana bem como a apropriação destas para mudanças no Mundo e no Homem são basilares enquanto progressão deste tipo de tecnologia. Consequentemente, a transposição destes conceitos para áreas distintas, nomeadamente a Arte, tornam-se cada vez mais complexas e de opiniões antagónicas. 





Fotogs de http://www.cinemenu.com.br/filmes/a-i-inteligencia-artificial-2001

"Les Misérables"

Apesar do meu enorme prazer pela cultura geral, a televisão não é um dos meios de predilecção para a obter. Quase todo o tempo que passo em casa a trabalhar faz-me companhia, acesa mas silenciosa. Mas um bom filme depreende-se logo pelo início, sem som, sem actores, sem nomes de referência, bastando somente o tipo de filmagem. E foi assim que ontem, às 22h50, o meu olhar intragável resvalou em direcção ao pequeno écran e revi, onze anos depois da estreia, Les Misérables.
O filme e, sobretudo, a estória escrita por Victor Hugo, são demasiado prodigiosos para serem descritos. Todavia, é impossível não revelar que se assemelha, sob formas diferentes, a uma realidade e verdade tão contemporâneas de erros sociais a par com uma minoria de pessoas benevolentes. 
Jean Valjean, a ambição, a persistência, a coragem, o desespero e o afinco à sobrevivência humana, são palavras-chave que convivem paralelamente como mote a uma viagem visual de 2h11m fascinantes, em que ódio e paixão à vida concorrem, simultaneamente, em lados opostos, para um só final…desvendável só para quem o vê e lê.



Fotogs. De http://entertainment.webshots.com/album/349600931EmpllY

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ciência, Velocidade , Cibernética, Robótica, Aberração e Labirintos em "Inside"

Dado o relevo que é dado à relação Arte/Ciência na disciplina de Novas Tecnologias Artísticas, fomos hoje visitar a exposição Inside (Arte e Ciência) na Cordoaria Nacional.
O som, quase ensurdecedor, a alguns metros de distância da entrada, já pairava no ar. Eram os “Robots Histéricos” de Bill Vorn, um dos exemplos presentes de Cibernética.
Leonel Moura, artista que organizou e participa na exposição, fez a visita guiada. Depois de uma brevíssima introdução, lançou a questão fulcral que o levou a conceber a exposição, também denominada pelo próprio como “a arte do século XXI”: “A questão que se coloca é se a arte aqui presente na exposição é mais uma das tendências da arte contemporânea ou é uma ruptura na arte?”  Na situação de transtextualidade actualmente existente parece-me impossível que cada área se debruce sobre si mesma sem interacção com o que está à volta. De igual modo, depreendo um factor mais explícito de velocidade e concorrência do que ruptura. Estarão a Ciência e a Arte em competição? Serão as constantes descobertas científicas meros factores figurativos e conceptuais para a Pintura ou será a Pintura apropriada como meio de expressão visual dessas mesmas descobertas? 
Transversal a algumas das obras presentes, vejo um acentuado tom de aberração, nomeadamente, Orlan ao fazer inúmeras cirurgias plásticas na sua própria cara (por enquanto...), e Stelarc, ao colocar uma orelha com microfone no braço, por pura pesquisa artístico-científica.
O trabalho de Leonel Moura (robótica), consiste em robots pintores como meio de produção de pintura contemporânea, em que o próprio salienta que o essencial é o processo, mas que me parece facilmente esgotável ao nível de resultados plásticos: meros labirintos sobre um suporte, mais ou menos estruturados, figurativos e regulados pelas indicações de espontaneidade existentes nos robots através dos pheronomas. 
Tendo a exposição Inside um leque de possibilidades de discussão muito amplo, os meus pontos de vista aqui expressos são uma ínfima parte das questões sobre as quais me posso debruçar nesta relação entre Arte e Ciência. Considero, todavia, que os limites éticos ultrapassados em determinados exemplos são bem plausíveis e a ruptura que, porventura, deveria existir aqui seria a de evitar dar ênfase a produções artísticas que ultrapassam a conduta da sociedade ocidental actual. Produzir Arte é, a meu ver, bem distinto deste culminar de uma gigantesca produção que, em muitos casos, mais do que tentar ser Arte, desafia por todos os modos sensoriais e pretende somente agoniar o espectador…