De aspecto milimétrico, caem paralelas ou enviesadas, engrossam, retornam a seres mais pequenos, desvanecem-se. Páram um pouco para pensar, voltam a unir-se numa condensação volumosa e gaseificada e tornam a cair. São bonitas e simpáticas.
Hoje, como em muitos dias, foram amigas que não se separaram de mim nem por um minuto. Numa conversa mais ou menos amena entre si, colocaram-se do lado de fora enquanto eu, inspirada pelo seu agradável burburinho, pintava e divagava no meu mundo interior.
Inoportunas quando temos que partilhar o mesmo espaço sem o querer, são a melhor companhia quando se quer trabalhar confortavelmente em casa, pensar, reflectir, percorrer mundos reais e imaginários; oportunas, também, quando nos colocamos debaixo delas e levamos com a sua frieza na cara, de braços abertos a rodopiar com a sensação de leveza física e de espírito.
Sempre me lembro de gostar delas. Desde criança, em que os Invernos ainda eram de quase seis meses e via, em bicos de pés, pela janela da sala, um céu cinzento muito escuro e temeroso. Por vezes acompanhadas de raios e trovoadas, estavam lá, bem perto de mim e dos meus hábitos, e deixavam o seu rasto quando depois de pararem proporcionavam o cheiro maravilhoso a terra molhada.
Agora, de chávena com chá quente entre as mãos, pensei no que iria escrever e lembrei-me que, embora actualmente ousem aparecer sem anúncio e vislumbre prévios, sempre foram boas colegas e das melhores amigas que alguma vez tive.
Obrigada, gotas da chuva.
Fotografia de Carolina Quirino
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